8/19/2021

FAMÍLIA: EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE

Há no meio religioso mal denominado evangélico ou gospel, uma orientação que preza orientar a família como plano de Deus, onde o homem é o cabeça da família, a esposa deve ser submissa, bem assim os filhos. Esta estrutura familiar, de inspiração hierárquica, patriarcal e impositiva da autoridade, exige que o homem tenha o controle familiar, que seja “o sacerdote da família”, não importando se ele tem ou não habilidades proativas e capacidade de decisão. Jogam todos no mesmo cesto e padronizam-se comportamentos masculinos e conjugais.

Já disse algumas vezes que a família é um sistema funcional cooperativo, onde cada um tem sua responsabilidade determinada pelas negociações ao interior do sistema, sem necessidade de se ajustar a um parâmetro estranho.

Já vi muitos casos de maridos estressados porque a igreja exige deles que seja o líder da família. Já vi casamentos desfeitos pela tentativa do marido em ser arvorar, de uma hora para outra, o chefe, contra tudo que vinha ocorrendo e fazia a família funcionar. Conheci um casal onde ele, desde os tempos de namoro era um sujeito calmo, sem iniciativas, sem liderança. Vieram os filhos e a coisa não mudou. Os filhos se acostumaram com seu jeitão pacato e bonachão. Excelente pai, carinhoso, atencioso, presente, trabalhador. Mas não era líder em casa. A esposa era um trato-de-esteira. Profissional bem-sucedida e reconhecida, tinha no seu DNA a liderança e a exercia no seio da família. O sistema funcionava bem, sem que sua liderança fosse questionada.

Certo dia o casal foi participar de um treinamento oferecido pela igreja, específico para casais. Lá o palestrante bateu forte na tecla de que o marido é o cabeça da família, que deve assumir seu papel, que a família onde o marido não é o chefe não funciona, não consegue se ajustar financeiramente, estão fora dos planos de Deus, os filhos serão rebeldes, etc. e tal. O “doutrinamento” foi tal que, pressionados emocionalmente, vieram pedir minha posição sobre o assunto. Conhecia o casal e sabia que deixar as rédeas da família nas mãos do marido/pai seria um desastre pela inata incompetência para a liderança e processo decisório.

Expus a eles meu ponto de vista, mas ele estava acreditando no que lhe disseram e pediu a esposa que queria assumir as rédeas. Ela consentiu. Passado um mês eles me procuraram e ele estava confessando sua total inabilidade. Não só não conseguiu como estressou o sistema e deixou contas a pagar. Até hoje eles vivem na cooperação das habilidades de cada um, inclusive dos filhos.

A família é um microcosmo, onde a diversidade existe, seja pela diferença do marido e da esposa, seja pela diferença destes com os filhos e entre eles. Educar dois, três ou mais filhos da mesma maneira é sinal de burrice. Cada um deve ser educado e estimulado a desenvolver suas habilidades no interior da família para que, neste estágio de aprendizagem, posso se sair bem no macrocosmo social. Tratar a todos da mesma maneira é violência.

A família é a “célula mater” da diversidade, do respeito à diferença e o espaço para o crescimento segundo as aptidões de cada qual. As ditaduras do “pai cabeça”, do “pai sacerdote” são aberrações.

Marcos Inhauser

 

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