2/15/2022

ELES NÃO CONSEGUEM SER BENÇÃO

Estava tomando um café, em visita a meus pais. A certa altura perguntei:

Pai, o senhor tem notícias do Fulano e da Beltrana?

— Há tempos que não ligam. Eles só ligam quando estão precisando de algo ou para reclamar dos parentes. Eles não conseguem ser uma benção! Nunca estão quando se precisa deles!

Tive um funcionário em um local onde trabalhei que tinha o dom da ausência. Muito gentil, muito prestativo, mas nunca estava por perto quando dele se precisava. Quando aparecia, depois de algum tempo, perguntava: “precisou de mim?”

Há algum tempo estive conversando com uma mulher de seus 40 e poucos anos, que passou por uma cirurgia delicada, de difícil e demorada recuperação. O pessoal da igreja fez uma escala de pessoas voluntárias dispostas a passar as tardes com ela, para atendê-la se tivesse alguma necessidade. Ela me contou da alegria em saber que estavam cuidando dela e se prontificando a ajudá-la a passar pelos difíceis momentos.

— Mas teve quem, ao invés de ajudar, foi um peso. Teve quem veio e começou a contar dos sacrifícios que teve que fazer para arrumar uma tarde livre para estar comigo. Outra me usou para falar mal da sogra, do marido, da mãe, do pai. Houve quem gastou seu tempo para contar das doenças que tinha e que já teve, como se isto lhe desse algum alívio. Há quem não entendeu que eu precisava descansar e dormir. Não deixavam, falando o tempo todo! Não foram benção, antes cruz!

— Das que vieram quais foram benção?

— Dada minha situação, as que vieram e disseram: vou estar sentada aqui, ou ali fora. Se precisar me chame. Houve uma que trouxe uma pequena campainha de cristal e me pediu que a tocasse se precisasse, porque ela sabia que falar em voz alta era problema para mim. Houve quem veio, orou ao chegar e ao sair. Não disse nada e nem precisei dela. Mas saber que estava ali, em silêncio, foi como se a graça de Deus estivesse no meu quarto!

Você deve conhecer alguém que quando liga ou visita é mensageira da desgraça: tá devendo no cartão, no banco, brigou com o marido, o filho casado não liga mais para ela, o carro bateu, tem goteira no telhado, comprou um liquidificador pela internet e veio com defeito e está há um mês tentando que deem outro, etc. Nunca trazem a solução para algum problema, sempre só o problema. Se você se arrisca a dizer que poderia ser feito isto ou aquilo, ela vai responder: “isto não dá certo”, “é muito trabalho”, “tem que levar no correio e é uma canseira”.

Neste universo das pessoas que não conseguem ser benção, estão os folgados e espaçosos. Eles se acham no direito de usar e abusar da vida e dos bens dos outros. Meu pai tinha um amigo açougueiro que comprou uma chácara, com piscina. Todo santo final de semana a família toda ia para lá, comia e bebia às custas do proprietário. Ele queria vender a chácara para não ter que aguentar mais os familiares folgados, que também se deram licença para trazer amigos.

Meu pai disse:

— Se fosse eu, eu fechava a chácara alguns finais de semana seguido, sem avisar nada para ninguém. Eles vão para lá e darão com a porta na cara.

O proprietário fez isto. Na segunda, na parte da manhã já teve “parente” ligando e reclamando que a chácara estava fechada e que ele tinha sido mal-educado e nem tinha avisado. A chácara ficou uns quatro finais de semana fechada. Quando ele voltou com a esposa e filhos em um final de semana. Ficaram sozinhos e desfrutaram. Não demorou muito para que reclamassem que ele não avisou que estava indo, que não era justo eles não poderem desfrutar da chácara, que era egoísta.

Estes nunca conseguem ser benção. São parasitas!

Marcos Inhauser

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