Certa feita, em um encontro de pastores, o palestrante trabalhou o conceito de “paroikós” como sendo o cidadão do Reino, que não tem cidadania neste mundo, mas nele é peregrino. Lendo Manoel de Barros lembrei-me desta palestra, porque ele diz mais ou menos isto: “os andarilhos usam a ignorância. Sempre sabem tudo sobre o nada. E multiplicavam o nada por zero — o que lhes dá uma linguagem de chão. Nunca sabem aonde chegam e sempre chegam de surpresa. Eles não criam estradas, mas inventam caminhos. Me ensinam a amar a natureza. Bem que eu pude prever que os que fogem da natureza um dia voltam para ela”.
Troco a frase para “os que fogem da verdade um dia ela os vai encontrar”.
Tal como o andarilho, o paroikós também não faz estradas, mas descobre caminhos. As estradas da fé e do Reino são conhecidas ao caminhar. A vontade de Deus se conhece pelo retrovisor. Tenho medo dos que dizem saber da vontade de Deus a priori, por pré-ciência, assim como tenho alergia ao que dizem “a vontade de Deus é ...”, “o que o Senhor quer de você é ...”, “o Senhor me revelou ...”. Nisto diferencio o peregrino do andarilho: o primeiro o faz porque tem uma causa e valores, o último o faz sem nenhum valor ou causa, pelo simples prazer de andar. O peregrino caminha com uma esperança.
Andarilho e peregrino são levados, nunca dirigidos. Tal como a pipa, é o vento que os leva. Isto já disse o evangelista João: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai”. Assim é o paroikós, o peregrino do Reino.
O paroikós contempla a natureza, desfruta dos momentos, não olha para trás, mas obedece o que foi dito a Moisés (“siga em frente”), a Abrãao (sai da tua terra e parentela e vai para a terra que vou te mostrar sem dizer onde seria), a Paulo (quando o impedia de ir à Bitínia e o orientou a ir à Macedônia). O paroikós não é um ser apegado ao momento porque sabe que o que vem à frente é diferente do que teve ou tem. Está aberto à novidade, sabendo que está guiado por Deus.
O paroikós não é um conservador, nem fundamentalista que crê que as suas interpretações são inerrantes e infalíveis. Também não é um pré-milenista que acredita que as coisas precisam piorar e atribular para que venha o Reino. O Reino, para ele, está na caminhada, no descobrir do agir de Deus nos momentos e lugares que vive. Sabe que um dia chegará ou será levado ao Reino, mas acredita no “ainda-não”, na espera. Esperança é a marca do peregrino.
Marcos Inhauser
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