O Gênesis conta esta história: “vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra”. Há, neste relato, o desejo de ser conhecido, eternizado e louvado por uma obra, promover uma concentração de gente.
Tenho visto muitos projetos que têm a mesma ambição. Feitos para eternizar o nome de alguém ou para que todos saibam que ali estão os adeptos deste ou daquele líder. Não é necessário ir longe, nem esforçar a memória para se lembrar de coisas que cresceram rapidamente, tiveram seus cinco minutos de glória e caíram no ostracismo.
Aprendi com uma pessoa simples que há gente e situações que são como fogo no canavial: muito clarão por pouco tempo, depois só sujeira e confusão. Isto me faz lembrar do Banco Excel, da Caderneta de Poupança Delfim, da Capemi, do técnico Leão, do Trump, entre tantos outros.
Esta narrativa também tem me alertado para o que tem ocorrido no seio das igrejas. Os teóricos do crescimento das igrejas têm enfatizado o tamanho e desenvolvido termos como mega-igreja para qualificar as que têm milhares de membros que se reúnem em seus cultos. A ênfase é tanta que transparecerem que as pequenas não são abençoadas por Deus.
O sucesso de um ministério se mede pela quantidade de gente que reúne. Não importa se é showmissa, cultoshow, ou algo parecido. O importante é reunir gente e quanto mais melhor.
No Brasil uma destas se propôs a reunir um milhão de pessoas na esplanada dos ministérios em Brasília em um show de música evangélica, para mostrar sua força e liderança. Outro, volta e meia, é citado em relação ao número de pessoas que se reúnem em uma de suas showmissas. A cada pouco se ouve desta ou daquela denominação que pretende reunir milhares de pessoas em um local ou na Marcha para Jesus. Cada vez mais ouço de alguém que decidiu construir um templo para cinco, oito, dez, quinze mil pessoas. O tamanho aqui é documento. Quanto maior, mais reconhecido será o ministério deste ou daquele.
Sei de uma igreja de uns quatrocentos membros que se atirou na tarefa de construir um templo para cinco mil pessoas. Para poder se reunir no novo local, ainda que precariamente, emprestaram dinheiro até de agiotas. Correram o sério risco de perder o que tinham e o que já haviam construído.
Cada vez é mais atual a história da torre de Babel: quando se decide construir algo para glória própria, para eternização do nome, para mostrar pujança e poder, o Senhor confunde as línguas. O mesmo se aplica a projetos de perpetuação no poder, seja de esquerda ou de direita.
Que os megalomaníacos, proto-ditadores e arrogantes não se esqueçam disto.
Marcos Inhauser
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