9/09/2021

CIDADES DE PAZ

Estava na República Dominicana para a Conferência de Igrejas Históricas da Paz, que reúne as três famílias denominacionais de igreja que, historicamente, tem trabalhado pela paz: a Irmandade, os Quáqueros e os Menonitas.

Gente vinda de 19 países se reuniu naquilo que foi o berço da mal denominada colonização da América, quando em 1492, os espanhóis chegaram e se esparramaram pelo Continente, levando a cruz e a evangelização, e com ela a violência e a exploração.

Nesta terra das Américas muito se fez que atentou contra a paz, nos níveis individuais, familiares, sociais, religiosos. Ouro foi levado aos montes para a Europa e populações inteiras de indígenas foram dizimadas, como o que ocorreu em Cuba e República Dominicana, e outros poucos sobraram em outros países.

Nesta América se teve a primeira nação livre e negra, o Haiti, formada por escravos que haviam sido trazidos para as plantações de cana. Chama atenção o fato de, no que pese o fato de ser a mais antiga nação livre da América e quase totalmente negra, é até o hoje a mais pobre desta América. Não posso deixar de mencionar que sempre achei que esta situação se deve à discriminação racial que se fez e faz em relação a esta nação. Lembro-me de haver sobrevoado o Haiti muitas vezes (talvez mais de dez vezes, sempre durante o dia) e me definhava o coração não ver florestas. Ficava com a impressão de estar sobrevoando o deserto.

Uma coisa me chamou a atenção: o nível de violência nas cidades latino americanas, os mais altos do mundo. Em parte isto de deve ao tráfico, em parte à corrupção, em parte a uma cultura de violência em que fomos criados e que se perpetua nos meios de comunicação. Mas não poderia deixar de mencionar e ressaltar que também isto se deve à omissão das igrejas que tem pregado um evangelho alienante e alienado, insistindo na salvação das almas e na prosperidade mágica, mas deixando de lado o cerne de que o evangelho é boa nova de paz.

João Driver, teólogo latino americano que tem se notabilizado por sua contribuição sobre a teologia da paz, afirmou nesta Conferência: “se o que pregamos não é o evangelho da paz, não pregamos evangelho algum”. E esta paz não é só a paz com Deus, mas a paz que se estende ao próximo e estabelece novas relações, elimina barreiras, quebra inimizades, perdoa ofensas e dívidas.

Queremos que nossas cidades tenham paz e para tê-la precisamos pregar a paz que o evangelho traz, perdoar e restabelecer relações. Não é uma questão de prosperidade: é uma questão de acabar com a inimizade, com ódio, com a violência. Pregar e trabalhar pela paz é não dar espaço para discursos de ódio, de divisão de golpe. A palavra “evangelion” no grego é anúncio da paz, as novas de paz.

Sejamos pacificadores!

Marcos Inhauser

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