2/15/2022

ELAS SEMPRE SÃO BENÇÃO

Muitas vezes li, refleti e escutei sermões sobre o texto de Gn 12:2 “Sê tu uma benção”. Sempre me encuquei com este texto, não conseguindo definir se se trata de uma ordem dada para que Abraão fosse uma benção ou se se trata de uma ação de Deus na vida de Abraão: serás uma benção. Se o primeiro caso é o que está no texto, trata-se de uma volição, uma decisão de ser benção. Se se trata da segunda possibilidade, é um ato da graça de Deus: serás uma benção independentemente da vontade de querer ser ou não.

No campo dos pregadores da teologia sinérgica onde Deus e o homem cooperam para que as coisas aconteçam, se coloca um peso enorme nas costas da pessoa, obrigando-a a ser benção. Se, de outro lado, é ação da graça, o ser benção é natural e espontâneo.

Confesso que, até hoje, estou na indecisão. Conheço gente que decidiu fazer da sua vida uma fonte de benção para os demais. Eles se dedicaram a um ministério, a um compromisso, a ajudar setores específicos e, por assim terem decidido, se tornaram uma benção na vida das pessoas beneficiadas. Foram atos pequenos e grandes.

Lembro-me do meu tio Nicolau. Na igreja de Indaiatuba havia um senhor, o Eduardo Volpi, quase cego, aparentemente com alguma limitação mental. Ele era ativo na igreja e no coral. Morava nos fundos da igreja e tinha uma carrocinha puxada a mão e fazia serviços de entrega de compras ou transporte de pequenos móveis. Não sabia e não podia ler. Meu tio, toda semana, ia ao seu quarto e lia para ele a lição da Escola Dominical do próximo domingo e explicava algumas coisas sobre a lição. Assim fez por mais de 30 anos, infalivelmente. Meu tio era tímido (nunca namorou por causa desta timidez), não tinha grandes habilidades, mas no que sabia fazer, fez e foi benção.

Conheci a Dona Maria Avelar, membro de uma igreja que pastoreei. Ela era benção sem precisar fazer força. Sua presença, seu sorriso, carinho, cuidado eram abençoadores. Seu marido que se negava a ser dizimista e ela decidiu trabalhar “costurando para fora”. Assim ganhava algo que era para dar o dízimo que o marido se negava a dar. Muitas vezes ela veio até mim (pastor da igreja, com dois filhos pequenos) e colocava no bolso algo e me dizia: “é para comprar café”, “é para comprar a papinha dos nenês”, etc. Ela sempre destinava a sua oferta e o que me chamava a atenção era que parece que ela ia à minha casa para saber qual era a necessidade. Ela era uma benção sem fazer força.

Minha sogra, Salime, era uma destas que não fazia força para ser benção. Nunca uma pessoa bateu à sua porta pedindo algo que tivesse saído sem levar um prato de comida, umas frutas, um doce que fazia. Não dava dinheiro, mas dava do seu trabalho e do que tinha em casa. Ela era benção sem fazer esforço.

Um exemplo de ser benção por determinação e outro por vocação. Acredito que ser benção por decisão e ser por ação da graça são atos que não se excluem. Se decido que vou ser benção, a graça foi que mel levou a esta decisão e me capacita para ser benção na vida do próximo.

De minha parte, peço a Deus sabedoria para ser benção na vida de pessoas com as quais me relaciono. Muitas vezes fico na dúvida se Deus tem respondido a esta minha oração. É um ato de vontade que, tenho certeza, dependo da graça para poder realizar o que me propus. E se, pela graça, alguma vez sou benção, parece que Deus não me deixa saber para não me orgulhar.

Marcos Inhauser

 

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