Nada contra a renovação das esperanças, coisa salutar e necessária para vencer barreiras e obstáculos. O que me angustia e até me irrita e ver a quantidade de atitudes mágicas que se assomam, produzindo comportamentos os mais esdrúxulos. Uma comentarista de renome, filha de família de educadores e pastores, comentou na rádio que ela se veste de branco na passagem de ano porque isto lhe dá sorte. A outra respondia que vestiria verde porque necessita de esperança.
Isto me faz recordar a mãe de amigos que tive na adolescência que, em pleno baile de réveillon. Mal-dadas as badaladas da meia noite, saía ela com uma marmita de lentilha a nos obrigava a comer, porque isto nos daria prosperidade no ano entrante. Pelo tanto de lentilha que comi deste jeito, deveria estar milionário. Mas qual o quê. O gerente do banco anda querendo saber quanto ganho para ver coloco algum nas carteiras de investimento que têm.
Já estive na praia várias vezes na passagem de ano e não vi nada mais antiecológico que o que se faz nas areias durante o réveillon. Velas, taças quebradas, toneladas de flores lançadas ao mar, rojão de todo o tipo soltando fumaça até não se poder mais ver os fogos de artifício, gente bêbada. Tudo em nome de uma felicidade buscada na virada do ano.
Outra coisa que me irrita é que todo o ano é a mesma coisa: uma sucessão infindável de restrospectivas. Na televisão, na rádio, nas revistas, nos jornais. Parece que o mundo para, que se congelam os acontecimentos e todo mundo fica olhando e revendo o que passou. Mais que isto, a Globo, em um arroubo de criatividade, há mais de duas décadas coloca o mesmo cantor cantando as mesmas músicas que ouço desde a adolescência. Videotape!
Ainda tem os numerólogos, tarólogos, horoscopistas, astrólogos e tantos outros que a si mesmos se chamam de “videntes”, que são chamados para predizer o que será. Como ninguém tem como conferir e cobrar deles a veracidade ou chute de suas previsões, ano após ano eles desfilam o rosário de suas predições. Já disseram que o Brasil seria Hexacampeão mundial de futebol, que este ou aquele seria eleito, que tal fulano ou fulana chegaria ao topo da carreira. Há certas previsões que nem preciso ser vidente para fazê-las: vamos ter um incremento de sarampo e poliomielite por falta de vacinação adequada, que as contas do governo vão estourar em 2020, que vamos continuar ouvindo negacionismos apesar da ciência, que a esquerda vai ter um rebote mais por incompetência da Direita (o primeiro sinal é o Chile).
Creio, ensino e faço a avaliação dos meus atos a cada período e fim de ano é um deles. Creio, ensino e renovo minhas esperanças, mesmo nas passagens de ano. Mas daí achar que as coisas vão acontecer milagrosamente, é uma distância enorme. Quem quiser crer na magia, que o creia. Eu prefiro crer no suor, na transpiração, no comprometimento, na sensatez, na ciência. Creio na graça e na benção de Deus. Creio no Salmo quando diz: o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Estamos chorando seiscentos e cinquenta mil mortes e as perdas pelas chuvas. Creio no arco-íris que aparece depois da tempestade e na alegria de um novo dia!
Se isto é ser rabugento, meus críticos tem razão e alguns escrevem amis do que eu para me criticar no que posto.
Marcos Inhauser
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