2/15/2022

TIPOS DE SILÊNCIO

Não tive paciência para ver alguns dos depoimentos dados à CPI da Pandemia, porque eram a repetição das frases: “reservo-me no direito de ficar em silêncio” e a variante “reservo-me no direito de ficar calado”. Isto me levou a aprofundar algo que venho meditando há tempos, que é o significado e os tipos de silêncio.

Há o silêncio do ignorante. Ele não fala porque não tem nada para falar. Seu cérebro não tem informações para poder dizer qualquer coisa significativa. E, para não dar vexame, se fecha em copas. Ele sabe que não sabe. Este é um silêncio raro, porque o ignorante, no mais das vezes, é boquirroto e tem respostas e soluções para tudo. Já pensei que a ignorância é diretamente proporcional à quantidade de palavras ditas, ainda que não ache que isto seja uma regra absoluta. Se assim fosse, alguns dos grandes sábios da humanidade não seriam conhecidos como tais porque não se saberia o que pensavam. Neste quesito há o silêncio do ignorante honesto que, quando perguntado, ele diz: “não sei”, “não tenho como explicar” e sua resposta lacônica é honesta.

Há o silêncio conveniente. A pessoa não fala porque, se falar, se incrimina. O não produzir provas contra si é um direito reconhecido em quase todas as nações sérias que tenham um regramento constitucional que mereça tal nome. Neste quesito se inserem os silêncios dos muitos “depoimentos” que se tentou fazer nas CPIs e que os convocados, baseados ou não em liminar, faziam valer o direito ao silêncio. Silenciam mesmo diante de fatos públicos e notórios.

Há o silêncio cúmplice. Na máfia há a omertà que é o pacto de silêncio cúmplice para que ninguém seja dedurado pelos companheiros. Nas CPIs do Mensalão e do Petrolão o silêncio cúmplice foi a tônica de muitos dos investigados. Houve quem falou porque, incriminados pelas provas robustas, preferiu “colaborar” para ter sua pena aliviada. O mesmo se deu com os silenciosos/silenciados na última das CPIs.

Outra modalidade é o silêncio reflexivo. A pessoa permanece calada, quieta, não porque não tenha nada a dizer, nem porque não quer se incriminar, nem é um ato de cumplicidade com a companheirada, mas porque, diante dos fatos e novidades, precisa de tempo para ler, ver, diagnosticar, avaliar o diagnóstico, para só então falar. É o silêncio da prudência!

Há o silêncio da sabedoria. Se o ignorante, no mais das vezes, fala pelos cotovelos, dando respostas a tudo e ensinando todo mundo, o sábio só fala quando solicitado e mesmo assim, fala com parcimônia. Fala o estritamente necessário. O sábio, ao falar, não se delonga, não dá repostas prontas, antes instiga os ouvintes a se perguntarem e acharem por si mesmos respostas para as questões que a ele foram dirigidas.

Ainda se pode dizer do silêncio inquisitivo. A pessoa fica em silêncio e no seu silêncio todas as perguntas e respostas são possíveis. Ele não fala, mas obriga os outros a falarem e explicitarem o que estão pensando. É um silêncio angustiante para quem o recebe, porque nele cabem todas as possibilidades.  Este silêncio também é o da sabedoria. Ele obriga as pessoas a se posicionarem, a se definirem, sob risco próprio. Nunca poderão se valer das palavras do sábio, porque elas não virão.

Para os que não gostam de pensar e querem respostas prontas e esclarecedoras, o silêncio é cruel, mas enriquecedor.

Marcos Inhauser

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ESTADO ESQUIZOFRÊNICO

Não é de hoje que falo, escrevo e protesto contra o Estado brasileiro nos seus diversos níveis. Há nele um aperfeiçoamento célere quando s...