Minha resposta a um "comentário bíblico" postado em meu Facebook, em função de da citação de um trecho da Letter to the Queen (1558)
Quero trazer algumas reflexões sobre o texto paulino usado por Paulo Gill na postagem abaixo. Ele, na sua argumentação usou o clássico texto de Paulo aos Romanos em que o tema da autoridade é tratado. Vou interpretar da forma mais literal (fundamentalista?) possível.
Uso o texto mais amplo de Romanos 13 para poder situar minhas reflexões: “1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. 2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. 3 Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, 4 visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. 5 É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. 6 Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. 7 Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.”
Este texto vem logo após a consideração sobre os dons na igreja e os comportamentos recomendados aos cristãos, onde o serviço ao próximo e a prática não violenta com quem nos ofende e contra nós comete atos de injustiça. O texto subsequente trabalha o nível de tolerância que deve haver com as opiniões/comportamentos diferentes.
Deve-se notar que, no texto citado há a afirmação de que as autoridades têm procedência divina (não há autoridade que não proceda de Deus). Também vai mostrar a função delas: “não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal” e “visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem”. Há aqui a conceituação da autoridade legítima: elas são autoridades quando promovem o bem (“autoridade é ministro de Deus para teu bem). Se não promove o bem dos governados, não é autoridade no conceito explicitado
Ora, se estou desempregado há quase dois anos, diariamente busco emprego inutilmente; tenho esposa e dois filhos; não tenho conseguido colocar alimento regularmente em casa; dependo da caridade para suprir coisas básicas; não consigo pagar o aluguel e estou para ser despejado no próximo mês sem ter para onde ir e certamente seremos mais uma família na rua; se vejo nas filas outros milhares em situações análogas ou piores que a minha; se não consigo comprar um botijão de gás porque seu preço subiu assustadoramente durante o mandato desta autoridade; se o consigo comprar de alimento tem preço diferente a cada vez que o faço; só posso concluir que o governo/autoridade/ministro de Deus não está fazendo o bem para mim.
Se não está sendo para meu bem, devo continuar obedecendo e pagando impostos a quem tem me prejudicado, me atirado à fome e à rua? Se percebo que ele está mais preocupado em se livrar das acusações que sobre ele e seus familiares pesam, em fazer motociatas e dar dinheiro aos militares e pouco ou nada tem feito para minorar a minha dor, a fome da minha família, a arrumar emprego devo continuar achando que ele é ministro de Deus? Devo-lhe obediência? Ou a desobediência civil que aprendi lendo Gene Sharp, ouvindo Mandela e Ghandi e muitos outros, deve ser a minha prática cristã de vida?
Marcos Inhauser
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