6/28/2021
VIDA CRISTÃ?
Pode parecer estranho, mas sempre tive meus questionamentos com o jargão “vida cristã”. O primeiro deles é que o termo “cristão” só apareceu mais tarde, quando Jesus já havia ressuscitado e assunto aos céus. Ele foi usado por primeira vez em Antioquia e o texto diz que era a primeira vez que assim eram chamados. Há indícios que eram conhecidos como “os do Caminho”.
A segunda inquietação é que o termo “vida cristã” nunca foi usado por Jesus ou pelos evangelistas. É verdade que ele falou, e muito, sobre a vida, mas nunca a adjetivou como cristã. Ele falou de “vida abundante”, de “vida eterna”. Parece que, para Jesus havia a vida, a vida abundante e a vida eterna.
Perceba que o termo “vida em abundância” está relacionado à vida: “tenham vida e vida em abundância” (Jo 10:10). O que isto significa? Deve-se notar que Jesus nunca disse que a vida seria fácil: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” Jo 16:33; “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” Jo 15:18-19). Poderia ele estar falando de abundância no sentido acima? Uma vida abundante de tensões e aflições?
Por que, para conveniência nossa, sempre lemos e entendemos que a vida em abundância é que se trata da vida prazerosa? Uma análise dos eventos jesuânicos, mostrará que na vida do Mestre houve mais momentos de prazer ou mais momentos de tensão? Ele teve uma vida abundante no sentido que os pregadores da graça barata atribuem? Pode-se dizer que a vida familiar de Jesus foi abundante no relacionamento com o pai e os irmãos?
Quando apareceu o termo “vida cristã”? Por que, a partir de determinado momento o cristianismo precisou adjetivar a vida? O que ela significa? Olhando para o Novo Testamento vemos uma continuidade da ideia do Antigo no sentido de que a vida “como vivência, princípio da vitalidade, experiência concreta de vitalidade, plenitude do poder, prazer no exercício das funções vitais”. Nestes tempos de pandemia, nós que ainda estamos vivos, estamos vivendo a plenitude da vida? Há vida abundante no luto? Como entender a expressão de “vida abundante” nestes tempos de 510.000 mortes só no Brasil e com mais de 3 milhões no mundo?
O que é vida cristã nestes tempos? Seria o termo uma variante do jargão “crente carnal” e “crente espiritual”, sendo estes os que têm vida abundante? É possível ser cristão sem ter vida cristã? A vida é cristã deve ser definida como? Ela é racional ou experiencial? Ela é conceitual ou prática? É possível ter vida cristã sem ter vida abundante? Ter vida abundante significa ter vida cristã?
Estas são algumas perguntas para você pensar. Saliento que este é um texto interrogativo e não afirmativo. Que ninguém venha me dizer que eu afirmei isto ou aquilo.
Marcos Inhauser
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