7/21/2021

QUE EVANGELHO É ESTE?

Nas últimas duas décadas e mais especificamente na última, o Brasil experimentou um crescimento vertiginoso dos que se dizem “evangélicos”. A explosão se deu em conjunção com o surgimento de inúmeras novas igrejas, sem raízes com a teologia histórica e sem preocupações com a ética bíblica. Romperam com um padrão clássico que caracteriza as igrejas históricas, qual seja a participação dos fiéis nas decisões por serem membros, implementando um novo modelo de administração onde já não há filiação e assembleias, mas um pequeno grupo de pessoas, todas estreita e fielmente ligadas ao fundador. Estes decidem a vida da igreja e dão destino aos recursos levantados.

Uma coisa que chama a atenção neste quadro da realidade religiosa brasileira, onde os números apontam uma população evangélica de mais de 15% é que, apesar de ser o evangelho uma pregação de paz, de perdão, de busca de relacionamentos de amor entre as pessoas, não se tem percebido que o avanço dos evangélicos ajudou a diminuir a violência no país. No que pese o aumento dos pregadores da salvação, juntamente com o crescimento dos adeptos do evangelho, o que se tem é o crescimento da violência, tal como se vê no Rio de Janeiro e Ceará. Se o evangelho é para ser luz do mundo e sal da terra, que tipo de luz e de sal este evangelho pregado no Brasil tem sido? Seria ele autêntico?

Outra característica da pregação destas novas igrejas é a teologia da prosperidade, afirmando que a fé pode dar ao fiel melhores condições de vida, melhores empregos e salários. A julgar pelo número de frequentadores dos cultos da prosperidade e pela quantidade dos pregadores de tal “doutrina”, era de se esperar que este evangelho tivesse ajudado a mudar o perfil econômico e social do Brasil, alavancasse o PIB e diminuísse os níveis de pobreza. No entanto, o que se tem visto, segundo os indicadores econômicos, é que se teve uma redução no poder aquisitivo, que a renda média do brasileiro caiu e que houve uma brutal transferência de recursos dos mais pobres para os mais ricos. E, salvo melhor juízo, tais dados são os mais altos índices na história brasileira e que ocorrem na vigência da teologia da prosperidade.

Diante disto, uma pergunta não quer calar: que tipo de prosperidade é esta? Está ela promovendo a ascensão econômica e social de seus adeptos? Ou está ela servindo para acelerar a transferência de recursos das camadas mais pobres para os ricos, dando condições para que se tenha uma rede nacional de televisão e rádio em pouco mais de uma década? A prosperidade é dos pregadores ou dos fiéis? Não estariam as financeiras, quais verdadeiros agiotas legalizados, se esbaldando com empréstimos a fiéis da prosperidade que se atiraram na aventura de comprar o carro novo ou a casa nova prometidos pelos prósperos pregadores e que agora estão atolados em dívidas?

Que me perdoem os mais crédulos, mas tenho para comigo que este evangelho é outro evangelho e que merece o anátema ensinado pelo apóstolo Paulo.

Marcos Inhauser

 

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