Lembrei-me destas afirmações porque tenho ouvido sermões, os mais diversos, seja por pregadores de televisão ou ao vivo nas igrejas que tenho visitado. E constato uma coisa que há tempos ouvi de outro colega que comigo trabalhou: “ele muda o texto bíblico, mudas as ilustrações, mas o conteúdo é sempre o mesmo”.
Tenho ficado impressionado com o arengamento em que se transformou o sermão nas igrejas evangélicas. Pregadores que não conhecem as regras básicas e mínimas da retórica, muito menos da oratória sacra. Falam sem norte, sem saber que pretendem dizer, como se o muito dizer produzisse mais frutos que o falar centrado em proposição definida.
Certa feita, convidado para participar de uma Assembleia Geral de uma denominação dos Estados Unidos, encontrei-me com uma colega, que estava escalada para pregar em uma das noites. Quando me viu, pediu-me para ajudá-la na preparação do que queria falar. Perguntei-lhe qual era a lição que queria ensinar aos ouvintes, o que ela queria transmitir. Assustado, ouvi a seguinte resposta; “eu tenho uma ilustração ótima e quero contá-la; quanto ao texto bíblico e a mensagem não tenho a menor ideia”.
Lembro-me de outro que tive que ouvir por força de reuniões obrigatórias. Ele conseguia usar ilustrações em exagero (uma vez contei dezenove em um único sermão!) e era tão especialista no assunto que chegava a contar uma ilustração para ilustrar a ilustração que estava usando.
Há não muito tempo, três pessoas que haviam participado de um culto, me procuraram revoltados: “imagine que ele pregou um sermão com vinte pontos e dezoito deles eram para colocar regras na vida da mulher; até o vestido de noiva ele regulamentou”. Outro confunde ser engraçado, palhaço, com ser inspirado. Acredita que quanto mais os ouvintes rirem, mais o Espírito está atuando. Deve ser adepto da benção do riso!!!
Talvez por isto é que os jovens vão às igrejas e lá ficam durante o tempo de louvor. Ao começar o sermão (ou arenga?), saem aos montes e ficam em frente à igreja conversando. Em outras, o sermão foi substituído pelo testemunho, onde a competição entre quem dá o mais emotivo ou inspirado testemunho acaba por ser a tônica.
Bem dizia o saudoso Rev. Joás Dias de Araújo: “Pregar é um mistério para poucos, o púlpito brasileiro anda paupérrimo e o Cecílio Arrastía, portorriquenho, talvez tenha sido o último grande pregador latino-americano”. O sermão virou arenga e pregador arengador.
Marcos Inhauser
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