Há dois relatos da criação na Bíblia. O primeiro cria o casal no mesmo dia, do mesmo jeito, com o mesmo selo, missão e benção. O segundo, coloca o homem como ato primeiro no processo criativo, cria toda a infraestrutura para ele poder viver e se alimentar, pede que nomine os animais e Deus constata que não é bom que o homem esteja só.
O viver solitário é egoísta. Não há o outro referente que o possa confrontar, todos os seus atos são só para ele, não há negociações. Ele é o rei do mundo. Não é para menos que a literatura sapiencial afirma que o solitário busca seu próprio interesse e se insurge contra a verdadeira sabedoria (Pr. 18:1).
A constatação da solidão primeva é feita logo após nominar os animais. Não havia entre eles um que pudesse responder à altura da fala humana. Comunicar-se é relacionar-se. Comunicar-se é abrir-se ao outro, é arriscar-se a não ser entendido, é abrir-se à necessidade de refrasear, de buscar ser mais didático, mais persuasivo, mais consensual.
O solitário é dono-da-verdade. Por não estar treinado na negociação comunicacional, prefere o ataque ao diálogo, a ofensa ao entendimento, a acusação ao consenso. O solitário não está treinado na arte da leitura corporal do que escuta para saber se está sendo ouvido, entendido ou aceito. É um falador loquaz, verborrágico, agressivo, insolente, arrogante.
O solitário pode estar rodeado de pessoas, mas sua postura é a de querer estar só, pois tem a única visão do mundo que crê ser possível. Sua fala é excludente, muitas vezes superposta à fala dos que tentam dizer algo, ele é um estuprador comunicacional.
Por ser solitário é burro (falto de sabedoria).
Marcos Inhauser
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