11/11/2021

A PALAVRA HISTÓRICA

As considerações feita no post anterior (A PALAVRA ETERNIZADA), ensejam outras reflexões, agora no campo da historiografia e da filosofia da história. Se a escrita foi criada por razões comerciais (controle da produção para cobrança de impostos e estabelecimentos de acordos comerciais) e se também o foi para exaltação das façanhas reais, tem-se que a escrita antiga, por mais que possa ser documento valioso, precisa ser tratada com o cuidado que isto requer.

Quando a historiografia se vale de desenhos nas cavernas, hieróglifos, escritas cuneiformes, a escrita cursiva e demótica dos egípcios, há que levar-se em consideração o fato de que, em sua essência, são exercícios de poder. A escrita não era de domínio público, pois só alguns sacerdotes e membros da elite real a manejavam. Ela não era de acesso popular, seja pela dificuldade em escrever (em terracotas, pedras, papiros), seja pelo fato de que a educação era praticamente inexistente. Era algo feito para os poderosos, em benefício dos poderosos, para eternização de seus feitos e aumento do seu império.

Assim, a história que conhecemos porque nos contaram, baseada nestes escritos e nos palácios, cidades, pirâmides e tumbas que construíram, é a versão dos poderosos. Ela descreve uma visão imperial, em uma leitura de cima para baixo, onde trabalhadores, escravos, estrangeiros não eram “gente”. Entender este viés da história é fundamental para se ter uma visão crítica sobre as narrativas dos poderosos. Tomando Michel Foucault como base, a verdade é a versão do poder. O que o poder escreve ou fala, porque é poder, é verdade.

Emprestando do mestre Zé Lima, a versão dos não-poderosos é sub-versão, uma versão de segunda categoria, uma versão inferior. E esta “subversão” é “sub-versiva” porque se contrapõe à verdade oficial. Falar ou escrever desmascarando os “poderosos e suas versões oficiais” é subversivo. E os áulicos estão prontos para, como milícia do poder, atacar quem se mostra “sub-versivo”. Os poderosos não admitem que possa haver outra versão diferente daquela que ele sustenta, mesmo que seja provada como falsa ou mentirosa. Para o poderoso não há fakenews porque ele é a verdade e esta não precisa nem pode ser checada.

A história oficial é a exaltação das grandiosas obras do poderoso. Assim foi no passado, assim é no presente.

Marcos Inhauser

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