Venho trazendo alguns questionamentos sobre a “vida cristã”. Neste meu refletir, devo dizer que sempre me preocupou a insistência de “pregadores iletrados” em relacionar a fé à eternidade, seja no paraíso, seja no inferno. Para estes, a fé é o salvo conduto para o céu e, por isto, o cristão deve estar “lendo os sinais do tempo”.
Preocupam-se
com fatos históricos perfeitamente inteligíveis na lógica da história e da
política, mas os apontam como sinais do fim do mundo. Apesar de estarem sempre
olhando para o dia-a-dia, não lhes preocupa coisas mais costumeiras como a
pobreza, a exploração do trabalho infantil, as condições humilhantes dos
sem-teto, a invasão de terras públicas, os desmandos na área do meio ambiente,
a corrupção. Falam de missões e evangelização, mas nunca de obter conhecimento
científico. Envolver-se com estas questões é “coisa mundana”.
Leem
miopemente os textos apocalíticos herméticos, mas se recusam a se debruçar
sobre dados de pesquisas sérias sobre a desigualdade no mundo, a quantidade
crescente de pessoas fugindo de seus países, dados sobre os gastos militares,
as condições sub-humanas nas periferias dos grandes centros urbanos, as
políticas públicas. Nunca pensaram nos ganhos da indústria farmacêutica e os
pixulés que médicos recebem por receitar os produtos de terminado laboratórios.
Sabem de
memória e recitam uma quantidade de versículos, mas não conhecem os direitos
básicos de um cidadão brasileiro. Nunca leram e nem lerão a Constituição
Federal, por ser “perda de tempo”. Dão o endereço bíblico de um monte de
coisas, mas não conseguem citar três pontos dos DDHH.
Concordo
com o Barth: o cristão deve ter a Bíblia em uma mão e na outra o jornal. A
Bíblia não é só manual de comportamento. É guia para a leitura dos atos de Deus
na história. Como já muito bem explicou G. Ernst Wright (O Deus que Age –
ASTE), mais do que um Deus que falou, devemos olhar para a Bíblia para buscar
um Deus que age no presente. Com Oscar Culmann acredito que há uma história da
salvação. Com outros, penso que o cristão verdadeiro é o que agem na sociedade
para transformá-la. A revelação não se esgotou ao ser escrito o último parágrafo
da Bíblia, mas ela se dá nos eventos cotidianos. Deus não está engessado pelo
cânone.
Ao enfatizar a eternidade, seja para que busquem alcançar o céu, seja para escaparem do inferno, atuam em um mecanismo de defesa perpetuado pela preguiça. É melhor saber pouco e mal, do que investir muito tempo naquilo que todos dia deve ser reestudado.
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