A sequência é obrigatória; prega-se o sermonete evangelístico, faz o apelo, ora-se pedindo para Jesus entrar no coração, discipulado. O padrão é aceito sem questionamentos. Há quem argumente que a falta de crescimento das igrejas se deve ao fato de que os convertidos não são discipulados.
Vamos por
partes. Lembro-me de haver lido (não lembro a fonte), há muito tempo, que foi
feito um levantamento de todas as campanhas de Billy Graham, Luiz Palau, Yiye
Ávila e outros renomados evangelistas que andaram pela América Latina e tiveram
multidões indo à frente ou levantando a mão para “aceitação de Jesus”. Somados
todos, poder-se-ia dizer que toda a América Latina havia aceitado a Jesus.
O estudo
perguntava: onde estão os que se “converteram?”. Resposta: “faltou discipulado!”,
mas não é esta a prática das igrejas conversionistas: a pessoa que levanta a
mão ou vai à frente é “convidada” para ir a uma sala com uma pessoa da igreja,
que o parabeniza, pega os dados e endereço e oferece a ele “estudos bíblicos”
para continuidade do processo. No mais das vezes, escalam um membro da igreja
para ser o responsável pelo crescimento espiritual do neófito. Uma versão
aparentada desta prática é a classe de catecúmenos ou de novos crentes que as
Igrejas mantêm em suas Escolas Dominicais.
A pergunta
que paira é: quantos deles realmente ficam na igreja? O que está errado? Não
seria a própria prática do “discipulado?” Explico-me.
Ainda que
se diga e enfatize que a salvação é um aceito que se faz na aceitação de Jesus,
entende-se e pratica-se a salvação processual. Ela “se salva” com a oração, mas
precisa entrar em um processo de crescimento. Sem isto, a salvação perde sua
valia. E como se faz este processo? Por um processo de transferência bancária
de conhecimentos doutrinários. Há um neófito que nada sabe e que deve receber
depósitos regulares de novos conhecimentos conceituais sobre a vida cristã. O
discipulado é, assim, um processo de inculturação doutrinária. Feito por alguma
outra religião, os mais ligeiros nos juízos chamariam de “lavagem cerebral”. Há
quem disse que converter-se é trocar o idioma: a pessoa passa a aprender a
falar o cristianês, e quanto mais fluente se torna no novo idioma, mais
espiritual é.
Este tipo
de discipulado parte do pressuposto de que todos têm a capacidade de absorver
os mesmos conhecimentos na quantidade estipulada pelos manuais de discipulado.
Não considera as formação, a vivência, os traumas, os óbices que teve na vida.
É um tratamento de rebanho.
Pelo
discipulado estabelece-se uma métrica da espiritualidade pela obediência a
certos padrões: orações diárias, leituras regulares e constantes da Bíblia,
memorização de textos assignados, frequência assídua aos cultos, contribuição
dizimal. A não observância ao planejado rotula-se como crente carnal.
Tenho para comigo que o discipulado é convivência e mentoria peripatética, gradual segundo as necessidades havidas. Discipulado se faz na comunhão, no respeito à diferença e à luz que cada qual tem. Não é pré-planejado, mas espontâneo. Não é impositivo, mas dispositivo no sentido de estar à disposição para quando dele se necessitar. Não é marcha unida (no sentido de todos batendo o mesmo pé esquerdo ao mesmo tempo sob um comando), mas é caminhada na trilha da vida, onde os mais hábeis ajudam e esperam os mais lentos.
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