6/28/2021

OS BUROCRATAS DO BATISMO

O relato é intrigante: “O anjo do Senhor disse a Filipe: —Apronte-se e vá para o Sul, pelo caminho de Jerusalém a Gaza. Filipe foi. No caminho viu um eunuco da Etiópia, que voltava para o seu país. Ele era alto funcionário, tesoureiro e administrador das finanças da rainha da Etiópia. Tinha ido a Jerusalém para adorar a Deus. Na volta, sentado na sua carruagem, estava lendo o profeta Isaías. O Espírito Santo disse a Filipe: —Chegue perto da carruagem e acompanhe-a. Filipe foi e ouviu o funcionário lendo o profeta Isaías. Aí perguntou: —O senhor entende o que está lendo? —Como entender se ninguém me explica? —respondeu o funcionário. Filipe, convidado, subiu na carruagem e sentou-se com ele. A parte lida era: “Ele era como um cordeiro que é levado para ser morto; era como uma ovelha que fica muda quando cortam a sua lã. Ele não disse nada. Foi humilhado, e foram injustos com ele. Ninguém poderá falar a respeito de descendentes dele, já que a sua vida na terra chegou ao fim.” O funcionário perguntou a Filipe: —Por favor, de quem é que o profeta está falando? É dele mesmo ou de outro? Então, começando com aquela parte das Escrituras, Filipe anunciou ao funcionário a boa notícia a respeito de Jesus. Enquanto viajavam, chegaram a um lugar onde havia água. O funcionário disse: —Veja! Aqui tem água. Será que eu posso ser batizado? Filipe respondeu: —Se o senhor crê de todo o coração, é claro que pode. E o funcionário disse: —Sim, eu creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Ele mandou parar a carruagem, os dois entraram na água, e Filipe o batizou ali.”

A prática do batismo foi ganhando, no processo histórico, condicionantes. A Didaquê, escrito da Igreja Primitiva e que é um manual para o batismo, traz algumas recomendações sobre os conhecimentos que o batizando deveria ter e a forma de se batizar “Quanto ao batismo, procedam assim: Depois de ditas todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Se você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente. Na falta de uma e outra, derrame três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Antes do batismo, tanto aquele que batiza como aquele que vai ser batizado, e se outros puderem também, observem o jejum. Aquele que vai ser batizado, você deverá ordenar jejum de um ou dois dias”

Da história do eunuco relatada em Atos às recomendações da Didaquê (que surgiu entre os anos 60 e 90 dC.), percebe-se um processo de burocratização do batismo. O que João Barista praticou, o que Filipe fez e o que agora se recomendava mostra um processo de criar exigências. O ato simples e humilde de realizar um ato externo de evidência de uma decisão interna foi ganhando ares de pompa, onde o poder episcopal e eclesial foi determinando quem podia ou não ser batizado.

As exigências cresceram e se tornaram regras nos cânones. O batismo hoje é para os iniciados e conhecedores de parte dos catequismos doutrinários denominacionais.

O ato espontâneo de João Batista e Filipe foi institucionalizado.

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