10/07/2021

A FALA COMO ACULTURAÇÃO

Quando ensinamos uma criança a falar nós a inserimos em um código linguístico e em um universo cultural. Toda fala é um aprendizado que traz em seu bojo um enunciado peculiar que é entendido, difundido e compreendido se se usa os mesmos códigos. Aprender a falar é um processo de aculturação.

A fala, como expressão de uma linguagem, não é universal. Ela é a construção de um segmento social que a desenvolve, aperfeiçoa e aceita como sendo a forma de entender, comunicar e se dar a conhecer e conhecer o ambiente em que tais códigos vigem. A linguagem é universal para o universo onde foi desenvolvida, mas é sectária porque, em última análise, despreza as demais formas de linguajar. Ela, acima de tudo, é uma forma de ver e compreender o mundo familiar onde aprende e vive. Daí porque, a pessoa que conhece só a “língua materna” tem uma visão estreita da vida e do mundo. A pessoa precisa sair do seu gueto, do seu ambiente familiar, ir para fora, para a escola, para enriquecer seu linguajar e sua cosmovisão.

Quanto mais eclética for a educação, mais seu “olhar do mundo” vai se ampliando. A educação é a forma de ampliar horizontes, de tirar do gueto familiar e transportar para universos outros. Sair do microcosmo onde foi treinado a falar é voar com a liberdade de conhecer novos códigos linguísticos e novas visões de mundo. É crescer, maturar, enriquecer-se. A pessoa fechada em seu mundo é um bonsai: envelhece e não cresce.

As leituras, as viagens, os contatos com outras pessoas e culturas são fermento para nos fazer crescer. Quando você encontra uma pessoa saudosa de onde nasceu, estudou e viveu, que quer voltar às origens como se voltasse ao paraíso perdido, estará diante de um bonsai. Um velho que não cresceu.

Estudar, ler, conversar, conhecer novas coisas, mundos, culturas, comidas, histórias é receber asas para voar. Mas tem gente que é como galinha: o voo é curto e ligeiro. Logo está no chão outra vez.

Marcos Inhauser

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