É vívida em minha memória as muitas vezes em que coloquei meus filhos, ainda pequeninos, em minhas pernas para dormir e fiquei olhando a carinha deles. Ora sorriam, ora faziam caretas ou ameaçavam chorar. As mudanças faciais me traziam a pergunta: o que estão sonhando?
Mais tarde, ao lembrar destas experiências marcantes comecei a me perguntar: como podiam sonhar com coisas se quase nada haviam visto pela brevidade do tempo vivido? Não podiam sonhar com palavras porque pouco ou nada sabiam sobre a linguagem. Com o que sonhavam?
Já li muita coisa sobre o tema, mas, confesso, nada me ajudou a esclarecer. Tenho para comigo algumas conclusões que, creio, não têm fundamentação científica, mas que as apresento como possibilidades. Acredito haver um conhecimento arquetípico que vem no ato do nascimento. Ele é o fruto das muitas experiências humanas que se consolidaram e somatizaram no ser humano, de tal maneira que, ao nascer, recebemos esta herança cognitiva genética. É um kit básico de informação. Penso que ele traz as informações que fazem com que o bebê “nasça sabendo” como chorar, resmungar, mamar, engolir, tossir, etc. Acredito mesmo que nasça sabendo fazer manha.
Há um estágio pré-cognitivo e não lógico na infância. O bebê pouco ou nada aprendeu, não existe uma lógica refinada nas suas interações, mas só as manifestações oriundas deste conhecimento arquetípico. No entanto, pais atenciosos perceberão que os choros têm suas mensagens: o de dor, de fome, de desconforto (fralda molhada, por exemplo) ou manha. Já é uma forma de comunicação!
Estabelece-se assim uma comunicação pré-linguística e oral, quando sons, grunhidos, risos, gritos são formas primevas de comunicação, de exteriorização de sentimentos (risos, sorrisos, lágrimas, cara feia, etc.). Sabe-se que o olhar nos olhos é a forma mais primitiva e desenvolvida que os humanos têm, porque é a mais antiga e constante forma de comunicação.
A leitura dos olhos é, assim, fundamental no processo comunicacional, iniciado na infância e aperfeiçoado durante a vida. Por isto se diz, com acerto, que os olhos são os ouvidos mais atentos. Isto nasce com o olhar atento à mãe enquanto o bebê mama, o que lhe assegura o conforto, a segurança e a certeza do carinho e da proteção.
Em que pensam ou sonham as crianças. Mistério, mas realidade. Pensam e sonham em algo que não sabemos!
Marcos Inhauser
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