A fala ao vento é inócua. Falar tem um propósito: alguém que a escute. O solilóquio é patologia. Quem fala sozinho fala pro nada, para nada e por nada. Falar sozinho é retornar ao tempo adâmico de nomear animais, sem que estes dessem resposta. Falar sem ter quem escute é bestial.
A fala só tem sentido quando alguém a ouve. O ouvido alheio é o objetivo da nossa fala. A fala é relacional porque é um “eu” que se dirige a “tu”, buscando haver entre ambos um “nós”. Daí porque ela é comum+ação: a ação de buscar algo comum!
Falar ao vento é futilidade. O solilóquio é típico das esquizofrenia, de quem vive ora em um mundo, ora em outro. A fala solitária é a conversa com o imaginário, com a irrealidade, com os fantasmas da mente. Ela é, também, o exercício de quem é dono-da-verdade. Só ele escuta o que diz!
Quando falamos buscamos ser ouvidos. Por isto nos especializamos em leitura corporal, forma indireta e inconsciente do outro me informar se me escuta e concorda. Este é o sinal da busca desenfreada pelos “likes” de quem “escreve sem saber para quem” e nem se “está sendo ouvido”.
O paradoxo da vida urbana e densamente povoada é que, quanto mais ouvidos haja à nossa volta, menos somos ouvidos quando falamos. Outro é que, quem menos conhecimento tem é quem mais fala, como se vomitasse as suas pequenas verdades para o mundo. A Bíblia diz que o falar é prata, o calar-se é ouro. É preferível o silêncio ao solilóquio dos surtados.
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário