Assim como há palavras que caem no limbo, há outras que ficam em vigência frenética por algum tempo. São como cometas: aparecem, têm seu brilho e desaparecem depois de um tempo.
Tenho em mente algumas que estão na crista da onda: narrativa, sem comprovação científica, coach e coaching, youtuber, cancelar, milícia e milícia digital, fake news, seguidores, likes, views, influencer, e outras mais.
Uma coisa que me chama a atenção é que, na quase totalidade delas, são inespecíficas. Elas se prestam a vários contextos e empregos, várias são usadas sem que se saiba a origem etimológica e são abusadas na sua variedade de sentidos. Como exemplo, cito “coach” que muitas vezes é empregada como sinônimo de “mentor”, e “coaching” de “mentoring”. Outra é “cancelar” que, até onde consigo visualizar e entender, se aplica ao mundo digital e às personalidades eflúvias da internet que sofreram ação coordenada de cancelamento dos seguidores.
A palavra milícia, antigamente empregada para força militar de um país ou exército, passou a ser empregada para o grupo que, não tendo ligação com o exército, age como se tivesse. Finalmente, no Brasil, passou a designar os grupos de pessoas que realizam patrulhas contra narcotraficantes, geralmente em regiões onde o Estado não está presente. Ocorre que, ela foi mais além para designar os grupos armados de defendem os narcotraficantes e outros que agem fora da lei.
A palavra “ineficaz” ganhou nova roupagem com “sem comprovação de eficácia”, eufemismo moderno produzido na esteira da pandemia. Neste contexto se pode marcar o uso hiperbólico que se fez das palavras “narrativa”, “crime contra a humanidade”, “prevaricação”, “procrastinação”, para citar algumas.
Concluo dizendo dos múltiplos usos que se tem dado às palavras esquerda, centro e direita, comunista e capitalista. O que era posicionamento ideológico-político, passou a ser ofensa. Muitos que acusam de ser comunista ou marxista, nunca leram uma página do Capital de Marx e se leram não entenderam nada. Assim também quem defenestra o Paulo Freire.
Marcos Inhauser
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