Tenho palavras que usei na infância e que foram para o limbo. Vasca (tanque de lavar roupa); componedor (usado nas antigas tipografias para nele colocar as letras que formariam palavras e orações); pinchar (atirar, jogar longe); moringa (tanto para se referir à cabeça como ao recipiente de barro onde se guardava a água); embornal (sacola de pano que se levava tiracolo com alguns pertences, especialmente a comida); quarador (local onde se estendia a roupa ao sol para que alvejasse); vitrola (aparelho onde se tocavam vinis); alpendre (varanda); gazebo (tenda). A lista é grande: assuntar, assomar, prosear, sopetão, baforada, senhorinha, choufer, cocheiro, e por aí vai.
No campo do futebol há algumas: certeralfo, corner, béqui, faul, guarda-meta. Quase todas foram aportuguesadas ou traduzidas.
Isto mostra e prova que a palavras têm vida: nascem, vivem e morrem. Depois de passar um ano vivendo na América Central, ao voltar encontrei algumas expressões que tiveram duração meteórica: “o cara”, “uma brasa”, “morô?”, “mina linda”. Outras são eternas: saudade, amor, carinho, gentileza.
Entre palavras frágeis, voláteis e eternas vivemos. Nós nos eternizamos pelas palavras que usamos e pelo uso que dela fazemos. Palavras são sons, mas são sonhos, convites, insinuações, encantamentos, magias. Tornamo-nos mágicos quando falamos palavras certas em horas certas porque fazemos acontecer coisas que nem mesmo acreditamos. Pense para falar, mas espere para ver o que suas palavras farão: isto é sabedoria!
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário