11/11/2021

A LEITURA PROFUNDA

Há duas formas mais consumidas de leitura: a feita no papel (física) e a feita nas telas dos tablets, computadores e celulares (virtual). Todas as duas têm por objetivo prover novas informações que geram conexões múltiplas cerebrais, fazendo com que ele seja “somatizado” (passe a fazer parte do corpo).

Estudos feitos sobre a eficácia dos dois métodos no processo de retenção/somatização das novas informações são reveladores da eficácia de cada um. No entanto, antes, devemos considerar que a fala é um processo “natural”, pois a emissão de sons é algo que vem no kit básico de conhecimentos que uma criança tem ao nascer. Não precisamos ensiná-la a chiar, resmungar, emitir grunhidos. O falar é um processo de habilitação de uma habilidade natural. Já o ler e escrever depende do aprendizado regular, constante para o desenvolvimento destas habilidades. Estas novas “informações” são processadas nos circuitos neurais e, a partir de certo momento, passam a ser “naturais” nas habilidades humanas.

Exemplifico: uma criança, em qualquer parte do mundo, que viva em ambiente onde as pessoas no seu entorno conversam entre si, sua linguagem será naturalmente ativada. Para aprender a ler e escrever, ela precisa de professores, escola e muita prática, pois implica na aquisição de um código simbólico completo, visual e verbal. Em termos de experiência humana, a fala é muito mais antiga (tem a idade da humanidade), mas a leitura e escrita existem há não mais de seis mil anos. Começou de forma simples, para marcar e controlar a quantidade de algumas coisas e, com a invenção do alfabeto e sistemas alfabéticos, passamos a armazenar e compartilhar conhecimento.

Assim, ler é uma habilidade que muda o cérebro, pois ativa de forma drástica os neurônios, permitindo fazer novas conexões entre regiões visuais, da linguagem, pensamento e emoção. Ler ativa a imaginação porque ela tem a capacidade de nos fazer imaginar o mundo descrito em uma novela, romance, conto ou mesmo em uma descrição científica. O mundo se abre para quem lê e escreve. Nas palavras de Cressida Cowell, escritora de literatura infantil, a “leitura traz três poderes mágicos: criatividade, inteligência e empatia". A biblioterapeuta Ella Berthoud afirma que "ler uma grande história é muito mais do que entretenimento ... tem muitos benefícios terapêuticos. Seu cérebro entra em um estado meditativo, um processo físico que retarda o batimento cardíaco, acalma e reduz a ansiedade".

Na Grécia Antiga, avisos colocados nas portas das bibliotecas alertavam os leitores de que estavam prestes a entrar em um local de cura da alma. No século 19, psiquiatras e enfermeiras prescreveram leituras para seus pacientes, da Bíblia até crônicas de viagens e textos em línguas antigas.

Sabe-se hoje que a leitura aguça o pensamento analítico, ajuda a discernir melhor padrões, e a entender comportamentos desconcertantes dos outros e nossos. Esses benefícios, no entanto, dependem da "leitura profunda". "Quando lemos em um nível superficial, estamos apenas obtendo a informação. Quando lemos profundamente, estamos usando muito mais do nosso córtex cerebral" (neurocientista Maryanne Wolf). "Leitura profunda significa que fazemos analogias e inferências, o que nos permite ser humanos verdadeiramente críticos, analíticos e empáticos." Ela ainda afirma que "a certa altura, quando uma criança vai da decodificação à leitura fluente, o caminho dos sinais através do cérebro muda. Em vez de percorrer um trajeto dorsal (...), a leitura passa a se deslocar por um caminho ventral, mais rápido e eficiente. Como o tempo depreendido e o gasto de energia cerebral são menores, um leitor fluente será capaz de integrar mais seus sentimentos e pensamentos à sua própria experiência" ... "O segredo da leitura está no tempo que ela libera para que o cérebro possa ter pensamentos mais profundos do que antes."

Uma coisa é ler, outra bem diferente é “leeeeer”!

PS. As informações estão baseadas em dados da BBC “O que a leitura em telas faz com nosso cérebro?"

Marcos Inhauser

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