11/11/2021

BIBLIOLATRIA

A Bíblia não é a revelação, ela é a testemunha da revelação. Ela é o meio pelo qual, usando antigos escritores que afirmam ter recebido da parte de Deus um conhecimento, somos informados disto. Não é o próprio Deus falando, porque, mesmo onde se diz que “veio a mim a palavra do Senhor dizendo”, é o testemunho de alguém que afirma ter ouvido e não é o próprio Deus chegando até nós. A Palavra de Deus é mediatizada pelo escritor.

A fórmula de Lengzfeld, precisa ser lembrada: "Se um dia uma expressão humana se encontrasse num relacionamento de identidade imediata e absoluta com a realidade divina, esta expressão já seria a manifestação insuperável e definitiva de Deus tal como o esperamos ver na eternidade. Então o logos da linguagem humana não deveria apenas comunicar a revelação, mas seria esta própria” (Citado por Doré, L Ancient Testament: Approaches et lectures, in ELLUL, Jaques. A Palavra Humilhada, Ed. Paulinas, SP, 1984, p. 77).

Quando pessoas como a Bíblia como algo sagrado em si,, que a colocam como amuleto em seus negócios, no porta-luvas do carro, ou a usam para tocar partes doloridas ou enfermas, estão cometendo aberrações. Usam o meio como fim.

Lembro-me de, no Instituto Bíblico onde comecei meus estudos, que um dia, um destes sacrossantos defensores da Bíblia, pregou um sermão exortativo de quase 50 minutos porque havia encontrado uma velha Bíblia, já caindo aos pedaços, no lixo. Para ele isto era blasfêmia.

John Mackay tem um capítulo em um livro que não me recordo o nome, onde ele faz a seguinte analogia: tem-se um telescópio em uma sala, preparado para observar os astros. Este é seu objetivo: trazer para perto o que está longe. Alguém chega e, ao invés de olhar pelo telescópio, ficando olhando o telescópio e falando das maravilhas que ele faz, sem nunca olhar através dele. Assim é a Bíblia: um telescópio para melhorar nossa visão sobre as coisas divinas. Mas muitos olham para a Bíblia como esse ela fosse o objeto de adoração. Um fim em si mesma. De instrumento de aproximação, passa a ser objeto de adoração. É a bibliolatria!

Marcos Inhauser

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ESTADO ESQUIZOFRÊNICO

Não é de hoje que falo, escrevo e protesto contra o Estado brasileiro nos seus diversos níveis. Há nele um aperfeiçoamento célere quando s...