“A realidade é o que é definido” (Hagerström). Com a fala e a escrita se pode descrever algo que é realidade, mas a descrição nunca é a realidade mesma. O fosso entre o real e a fala ou descrição escrita é insuperável e inevitável.
Esta era a grande tensão entre os nominalistas e os realistas. Os primeiros diziam que as coisas existiam sem que se desse a elas um nome, as abstrações eram reais sem necessidade de serem nominadas. Os realistas por sua vez, entendiam que as coisas só se tornam reais quando eram nomeadas. O dar o nome trazia à realidade o que se nominou.
Pode-se dizer que uma página é branca e vermelha. A descrição permite que se faça isto. A análise empírica mostrará que a página ou é branca ou amarela. O Salmista pode dizer “Os rios batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes” (Sl 98:8) e “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória” (Sl 24:7), mas nunca ninguém viu os rios batendo palmas, montes cantando de júbilo, portas levantando a cabeça.
Há quem vá falar de licença poética, no que está certo. Mas não se pode falar que estes textos são descritivos de uma realidade mensurável, palpável, empiricamente provada.
Há um princípio, o da não contradição, que implica em que a realidade deve ser descrita o mais próximo possível e a descrição não pode afirmar nada além daquilo que se vê ou em oposição ao que se verifica.
Quando coloquei aqui, em outro post, sobre a comunicação de significado zero, onde há contradição interna nas alocuções usadas, parece-me que houve quem não a entendesse.
O princípio da não contradição se aplica a todos os campos do conhecimento. Quando o ministro Paulo Palestra Guedes vem falar de uma recuperação em V da economia e os dados mostram retração há três meses no comércio, há uma clara contradição entre o que ele fala e a realidade.
Quando o presidente afirma ao Recep Tayyip Erdogan que sua popularidade está em alta, ele é confrontado com as pesquisas (várias) que mostram que ele tem índice sofrível de aprovação. Sua fala de que há um terço de ministros militares no seu governo é verdadeira, mas a de que todos os ministros foram por ele nomeados, sem interferência não se coaduna com a realidade. Quando a Dilma “ensinou” a Ângela Merkel sua teoria da economia anticíclica ela estava em flagrante contradição com os dados da economia em seu governo.
Qualquer um pode dizer o que quiser. Os fatos, a verificação empírica, os números, a ciência, os testes laboratoriais são a validação das falas e escritas descritivas.
Pode-se negar a vacinar-se, mas não se pode afirmar que ela não tem eficácia. Basta ver a redução no número de mortes após o processo de vacinação e os novos surtos em populações não vacinadas. A realidade desmascara a fala dos negacionistas.
Há muita fantasia com ares de descritivo. Sinais dos tempos?
Marcos Inhauser
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