Expulsaram Jesus Cristo do seu aniversário!
Chego a esta conclusão ao constatar in loco vários shoppings, noticiário e ter visitado a capital do Natal, Gramado. Vi um monte de Papais Noéis, vi muita iluminação, muita decoração, muita música, muito, mas muitos presentes e, por conseguinte, muita gente comprando. Mas o que não vi, salvo umas poucas e raras vezes, foi a menção a Jesus Cristo e seus ensinamentos.
Não quero aqui entrar no lugar comum de cair de pau em cima do consumismo em que se tornou o Natal, nem desandar a combater a bebedeira que se faz para comemorar quem se perpetuou pregando a prudência. Quero, sim, falar da secularização que tomou conta de um dos eventos maiores do cristianismo.
Já mencionei em artigos anteriores que o Natal se impôs em culturas tradicionalmente não cristãs. Mencionei minha experiência ao passar um Natal na China, da história que ouvi de pastores cubanos que montavam árvores de Natal para simbolizar a resistência em um regime ateu.
O Jesus do Natal é um Jesus asséptico, acessório, inerte, um xuxu que toma o tempero do contexto. Nada de recordar sua vida e obra, seus ensinamentos e a diferença que fez e ainda pode fazer na vida das pessoas e na sociedade. O Papai Noel é mais palatável comercialmente, é mais marketeiro que criança em uma manjedoura, é mais bem aceito pelas crianças. Para o Papai Noel basta que a criança tenha se comportado bem o ano todo, que tenha comido toda a comida. Ele é negociável, elemento de chantagem psicológica de pais para filhos. Se não se comportar, não tem presente; se não comer, não ganha presente.
O Papai Noel é um mascarado. Qualquer pessoa pode vestir-se de vermelho, colocar uma barba postiça e sair falando “ho-ho-ho” para a alegria da garotada. Quem se atreveria a fazer-se passar por Jesus Cristo para ensinar o estilo de vida simples, a solidariedade, a entrega da vida por amor ao próximo? Mesmo em celebrações religiosas tais como cantatas e encenações, o Jesus apresentado passou por uma cirurgia plástica para não ferir susceptibilidades. É um Jesus meio bonachão, nascido de maneira meio estranha, um pregador de amor. É um Jesus editado por um redator, onde a dimensão profética do seu ministério é retirada do texto. O mesmo se dá nas narrativas sobre a Paixão.
O Jesus do Natal está circunscrito a uns poucos lugares, a algumas poucas celebrações, a alguns pontos fora da curva. Tal como no seu nascimento, todos estão preocupados com outras coisas (o censo no caso de Jesus, o comércio no caso de Noel). O Natal que é uma celebração familiar, tem muita mais gente fora de casa, nas lojas e shoppings, lugares asseados que nada se parecem a uma estrebaria. Locais onde as músicas de natal têm encontrado cada vez menos espaço. Se ele não teve lugar para nascer, ainda hoje anda espremido e empurrado para escanteio nas celebrações do que se seria seu aniversário.
A história não mudou.
Marcos Inhauser
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