2/15/2022

NATAL KENÓTICO

Há uma palavra grega que Paulo usa quando, escrevendo à igreja de Filipos, narra, à sua maneira, o evento do Natal. A versão paulina do Natal está nestas palavras:

“Que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2: 6-11

1 - O Natal Como Esvaziamento

A palavra grega usada por Paulo para descrever o Natal é “ekenoosen” que significa “esvaziar-se”. Ao afirmar a natureza Kenótica do advento de Cristo, Paulo, longe de afirmar que a encarnação do Verbo seja o abandono da natureza divina, está afirmando que, por amor, assumiu a condição humana.

O evento do nascimento pode ser entendido como um processo de humilhação que Deus a si mesmo se impôs, não por outro motivo que o amor. Cristo não foi “menos Deus” por causa da encarnação, mas conciliou em si as duas naturezas. Os teólogos chamam a isto de “unio hypostática”, pois nEle o divino e o humano se integram perfeitamente, sem que o divino supere o humano, ou o humano ofusque o divino.

Assim, no pensamento paulino, o Natal é kenótico, é um esvaziamento de Jesus como Deus que é, sem que isto o diminua na sua glória divina.

É fundamental entender que o humilhar-se não é o negar-se. Ninguém é menos digno porque se humilha. O humilhar-se não denigre, não macula, não destrói. Cristo humilhou-se e nem por isto deixou de ser o Deus que é.

2 - O Natal Como Exaltação

Por outro lado, o Natal, segundo a versão paulina, é a exaltação do ser humano. Deus a tal ponto amou que não teve dúvidas em, mesmo que humilhando-se, assumir a forma humana. Ao fazê-lo, deu à humanidade um valor que a exalta sobre toda a criação.

O próprio texto afirma que Cristo recebeu a mais alta honra e homenagens tanto no céu como na terra.

Assim se estabelece outra verdade bíblica: “humilhai-vos diante da potente mão do Senhor e Ele, a Seu tempo, vos exaltará”. O Natal é a prova de que Aquele que se humilhou assumindo a forma humana foi por Deus exaltado. Apesar de ter nascido numa manjedoura na periferia da periferia, teve anjos cantando o Seu nascimento, recebeu a visita dos magos, uma estrela O anunciou. Apesar de não “ter onde reclinar a cabeça” e ter morrido numa cruz, ressuscitou e foi coroado de glórias.

3 - O Natal Como Adoração

O texto paulino afirma que o verbo encarnado e exaltado receberá o louvor, pois todos se prostrarão e confessarão que Jesus é o Senhor. Isto se deu no nascimento, com o louvor dos anjos, com a adoração dos magos. Isto se dá há quase dois mil anos quando joelhos têm se dobrado em todo o mundo para adorá-lo.

Qualquer outra atitude além da adoração é desvirtuamento do sentido do Natal. Este é tempo não de levantar brindes, mas de dobrar joelhos. Este é tempo de reconhecer que Ele se humilhou para nos exaltar e que nós devemos nos humilhar para exaltá-lo.

Marcos Inhauser

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