Estava em um aeroporto esperando um vôo que estava atrasado. Em minha companhia um amigo da mesma idade minha. Eu aproveitava o tempo para ler um livro. A certa altura meu amigo me interrompe:
- Você já notou que hoje há muito mais moças bonitas que na nossa juventude?
A pergunta me pegou de surpresa, mesmo porque nunca tinha pensado nisto. Imediatamente lembrei da esposa e das filhas (que são lindas) e concordei com ele. Pensando um pouco mais, emendei:
- Também pudera. Hoje há mais cosméticos, shampoos, vitaminas, ginásticas, academias, maior cuidado com o corpo, mais saúde. Não é para menos que haja mais beleza que antigamente.
- Sim. Concordo, retrucou o amigo. O problema de hoje e que não havia na nossa juventude é que se você vê uma mulher bonita você não pode ter certeza de que a beleza seja natural. Depois que inventaram o silicone e aperfeiçoaram as cirurgias plásticas, a dúvida se instalou na minha cabeça: é real ou não? Há mulheres siliconadas, “plastificadas” e cosmetizadas, concluiu o amigo.
A conversa me veio à minha mente nestes dias que antecedem o Natal. Como qualquer cidadão urbano, também fui dar minha volta nos shoppings e no centro da cidade, andei por bairros para ver casas iluminadas com as lâmpadas chinesas e taiwanesas. Não há grande diferença aos outros anos: muitas luzes, enfeites, árvores, bolas, coroas, etc.
Mas desta vez, por uma destas associações que a mente faz e que não sabemos explicar por que, a conversa do aeroporto me veio à mente.
Assim como as mulheres siliconadas apresentam atributos não-naturais, mais vistosos e bonitos, há um efeito siliconizante nos enfeites de Natal e nas decorações comerciais. Há um elemento sedutor nos balangandãs típicos desta época, em uma tentação que visa a levar as pessoas a gastarem mais do que podem, a consumir o que é supérfluo, a acreditar no acessório como se fosse o essencial. Há um quê de convencer que o algo mais que se tem neste mês é fundamental para a felicidade, assim como as plásticas e os silicones são vendidos e comprados como panacéia para a baixa autoestima e para as conquistas maiores da vida.
Esta é a comemoração natalina de muitos e que atire a primeira pedra quem nunca caiou nesta tentação: os silicones da champagne, do pernil, da roupa nova, do carro novo. O problema é que há muito mais silicone no Natal que na nossa juventude.
Marcos Inhauser
Marcos Inhauser
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