2/15/2022

O AMOR COMO AUTO-DECISÃO

Amor não se exige do outro, mas de si mesmo. Ninguém pode exigir que o outro o ame, mas pode, e deve, exigir de si mesmo amar ao próximo, desde o mais próximo até o inimigo. Este é o mandamento bíblico. E se lá essa como mandamento é porque amar não é coisa inerente ao ser humano, nem coisa inata.

Não nascemos amando. Aprendemos a amar correspondendo aos atos de amor da mãe e pai. Aprendemos a amá-los pela reciprocidade dos atos. Vejo isto nãos meus netos: eles dizem que me amam e à minha esposa porque, desde a mais tenra idade nós dizíamos a eles que os amávamos. Nos os acariciamos e beijamos e hoje eles também nos acariciam e beijam.

Amor não é sentimento. Amor é a decisão efetiva de fazer atos de amor em favor do outro. Amamos quando fazemos coisas que são benéficas para a vida do outro. Quando supro uma necessidade do outro, seja ela afetiva, de conhecimento, de amparo, de suprimento, este é um gesto de amor. Não posso exigir que os beneficiários dos meus atos de amor reconheçam que o fiz por amor, mas devo ter claro em mim mesmo que agi por amor.

Lembro-me de um ditado (talvez budista) que aprendi na adolescência e que tinha em minha mesa de trabalho quando, contra minha vontade, servi ao exército: “o sândalo perfuma o machado que o fere”. Isto é amor. Perfumar a vida dos outros, mesmo que nos ofendam, nos critiquem ou nos odeiem.

Quando Jesus pede/ordena que amemos aos nossos inimigos significa que, em sã consciência, devo decidir fazer coisas a favor dele. Não significa que eu deva ir beijá-lo, abraçá-lo ou elogiá-lo, mas que não devo oferecer a ele motivos para continuar sendo meu inimigo. Amar o inimigo não é deixar que ele me mate porque eu o amo.

Há pessoas que são folgadas, espaçosas, irresponsáveis, relapsas e que, com seu agir, nos prejudicam. Ainda que eu conheça e reconheça suas fraquezas e comportamento, devo ter atitudes que beneficiem a ela, ainda que de forma indireta. Não devo deixar que estes folgados deitem e rolem em cima de mim, mas dar um basta é um gesto de amor. Significa que não vou fazer coisas para prejudicá-la, mas posso até fazer coisas que a beneficiem.

Há quem nos critique pelo que fazemos, falamos ou respondemos. Há como que uma compulsão em criticar. Nestes casos o meu silêncio é um gesto de amor, porque ao não retrucar, não ofereço motivos para que a tensão se prolongue.

Estas pessoas provavelmente não reconhecerão que o que fiz e faço seja por amor, mas devo ter em mim a certeza de que o faço por amor, mesmo que saiba das suas críticas e folgas por cima de mim. Devo me colocar em vigilância quanto ao comportamento comprometedor que tem, não me sobrecarregar com a folga ou críticas e seguir amando.

Marcos Inhauser

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