2/15/2022

O CONTROLE DA AUTORIDADE

“Por causa da dependência que tem de outras pessoas para fazer funcionar o sistema, o governante está continuamente sujeito à influência e restrição, tanto por parte de seus auxiliares diretos, quanto da população. Esse controle será maior onde sua dependência for maior” (Sharp, E. Poder, Luta e Defesa. Ed. Paulinas, 1983, p.24).

Esta correlação apoio popular e autoridade tem a finalidade de controlar a autoridade para que não cometa desatinos. Entende-se assim por que os governos têm serviço de inteligência e a sociedade necessita conhecer as pesquisas sobre as autoridades, pois revelam este mecanismo de contrapeso ao exercício do poder. A história nos ensina que a pessoa investida de poder, mas sem autoridade porque lhe falta o apoio popular, usará da força e do arbítrio para que seu “reinado” permaneça.

Exemplos atuais são a Coreia do Norte, Belarus, Nicarágua e Venezuela. Antigamente os militares davam um golpe de estado e tomavam o poder. Era o exercício da manu militari para impor o poder da farda. Mais recentemente se tem o golpe via eleições. O eleito começa a minar as instâncias de regulação e articulação da sociedade, ao tempo em que aparelha os mecanismos governamentais com gente amiga que lhe dá apoio. São ministros, secretários, cargos em Conselhos da Estatais, um emprego fantasma que rende uma mesada mensal, verbas parlamentares e do relator. Assim, o apoio popular indispensável para que tenha autoridade se faz dando empregos, cargos e benesses. Tem-se um poderoso com o “poder da caneta” com uma autoridade comprada.

“A autoridade é a força moral e física que impõe direitos e obrigações entre os homens. Ela se dá nos diversos planos sociais, como a família, a cidade, o Estado, a Igreja, etc. E se faz uma distinção entre autoridade puramente moral, que se impõe pelo prestígio ou dignidade da pessoa que a detém, livremente reconhecida, e a autoridade política, onde a autoridade moral e a força física estão juntas” (Idígoras, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. Ed. Paulinas, 1983. P.23).

Ocorre que, na história política brasileira, a classe política enfrenta sérios questionamentos quanto à autoridade moral, sendo o político sinônimo de corrupção. Esperar que o político seja o “freio de mão” do político é esperar que a raposa seja excelente guardiã do galinheiro. Também se aprende com a história que um levante armado da população para deposição de um déspota é arriscado, porque o libertador de uma geração pode se tornar no ditador da próxima. Voltando a Eugene Sharp, a forma mais efetiva de retirar autoridade ao que está no poder é questionar, criticar e, especialmente, no negar-lhe obediência. É o processo pacífico (e cristão) de se combater os déspotas. Para isto existiram e existem os profetas!

Marcos Inhauser

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