Outro livro assaz interessante é o de Eugene Sharp “Poder, Luta e Defesa”, onde, entre outras coisas, faz a distinção entre autoridade e poder. Afirma que “a autoridade, por definição, deve ser voluntariamente aceita pelo povo, a autoridade do governante dependerá da boa vontade dos governados e variará à medida que varia essa boa vontade” (Sharp, E. Poder, Luta e Defesa. Ed. Paulinas, 1983, p. 22). Não posso deixar de citar Paul Ricoeur: “a autoridade é a tentação, armadilha do poder: a história da autoridade é então uma história onde grandezas e culpabilidade se encontram inextricavelmente misturadas; a culpa vinculada ao exercício da autoridade ora se chama mentira, ora violência, mas é a mesma, conforme a tomemos em sua relação a conteúdos de afirmação feridos ou em sua relação aos seres esmagados pelos demônios do poder” (Ricoeur, P. História e Verdade. Cia das Letras, 1968, p.14).
Uma pessoa pode estar sentada no trono do poder, mas só terá autoridade se tiver massivo apoio popular traduzido na obediência e na aceitação inconteste das verdades que ele fabrica. Sem o respaldo popular, tem o poder sem autoridade. E quando o “poderoso” percebe que o apoio se esvai, que os que os questionamentos às “suas verdades” aumentam e ganham popularidade, ele concentra-se em afirmar suas verdades e a negar-se ao diálogo, profere o que quer e não dá chances ao contraditório. Para o poderoso sem autoridade, contradição ao que afirma e crê ser verdade é ato terrorista. Cerca-se dos áulicos que meneiam a cabeça afirmativamente a cada bobagem que fale.
Marcos Inhauser
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