2/15/2022

O MEU UNIVERSO

Quando fiz meu doutorado no Northern Baptist Theological Seminary, porque estava retornando ao Brasil, acertei com eles que faria as matérias obrigatórias no NBTS e as eletivas no Doutorado em Psicologia Clínica da PUC-Campinas. Assim o fiz.

Na PUC tive uma professora em fim de carreira que ensinava metodologia da pesquisa científica na área da Psicologia. Ela iniciou seu curso com três premissas que não entendi bem e que demorou para cair a ficha. Primeira: ao ler uma tese ou livro, comece lendo a biografia do autor. Quem tem pouca experiência acadêmica e de vida, tem pouco o que comunicar. Segunda: Antes de ler o conteúdo, leia a bibliografia, pois ela é o referencial de mundo que o autor terá para escrever o que escreveu. Terceira: dê mais valor a artigos em revistas especializadas que em livros. As revistas trazem o conhecimento mais recente. Os livros são artigos que tiveram repercussão e o sujeito decidiu “encher linguiça” fazendo um livro.

Ela também tinha uma forma de gradação da bibliografia, dando maior pontuação aos artigos das revistas especializadas (em ordem decrescente por data da publicação) e depois os livros (também por ordem decrescente por data de publicação). Neste item ela fazia distinção entre os “livros” e os “clássicos”.

A ficha só me caiu quando, sentado em meu escritório e com os milhares de livros que eu tinha, afirmei a uma pessoa: “o meu mundo está aqui nesta sala. Se tiver que escolher um lugar para morrer será entre meus livros”. Eu me sentia (e ainda sinto) que o meu canto predileto no mundo é meu escritório e meus livros (boa parte deles eu doei porque não tinha espaço para abrigá-los, e sobre isto escrevi https://inhauser.blogspot.com/2009/ ).

No mundo da internet, me parece, as coisas mudaram. O que vale ser acreditado são os posts suspeitos, a notícia sem fontes, os sites sem credibilidade, a informação solta sem bibliografia, os memes tendenciosos. Um sujeito que se conhece só pelos posts, que tem um site de nome estranho ou pretencioso, que traz informações não lastreadas, tem mais peso que a palavra de organizações internacionalmente reconhecidas, duvidam de conclusão de reconhecidos cientistas, tergiversam os dados de fontes secularmente reconhecidas. É um sistema ao avesso do que aprendi com a professora.

Estou terminado a leitura do livro “A Queda da Hermenêutica” (James K. A. Smith) de quem já li outros três livros. Estou iniciando a leitura de Ruído – Uma Falha no Julgamento Humano (Kahneman, Daniel e outros), onde os autores afirmam que há três “is”: intuição, ignorância e inércia.  Os dois livros como que se complementam, pois, de maneiras diversas, afirmam as mesmas coisas: interpretamos os fatos e nossa interpretação sempre é limitada pelo universo que habitamos. Não há interpretação pura e verdadeira, mas individual e limitada.

Os maiores postadores de comentários e críticas descabidas e infundadas na internet (já comprovei isto empiricamente visitando inúmeros deles) não tem em suas redes socais nada que seja de sua lavra, mas replicam o que recebem. São caixas de ressonância de bobagens alheias.

Antes que me acusem de ser petulante e achar que sou o dono da verdade (o que já fizeram inúmeras vezes), afirmo que escrevo o que creio, baseado no que li em diversas fontes e no que reflito e concluo. Às vezes cito as fontes para que haja um mínimo de credibilidade no que escrevo, pois sei que a minha é mínima. Tenho quem gosta do que escrevo (e agradeço) e tem quem deteste e viva me criticando (respeito direito à opinião divergente, sem ofender quem diverge e, muitas vezes, respondendo com o silêncio). Tenho minhas convicções e as expresso (um direito universal) e pago o preço por fazê-lo. Não posso filtrar os meus leitores, mas peço incessantemente a Deus pelos que, lendo o que escrevi, entendam diferente do escrito e me acusem de afirmar o que não afirmei. Se falo de “A” inferem que sou a favor de “B” porque têm mentes binárias. Se sou a favor de “X” inferem que obrigatoriamente sou a favor de “Y”. Quando criticava o Bush pela invasão do Afeganistão havia quem afirmasse que eu era a favor do Talibã, dos muçulmanos, do terrorismo. Eu era crítico das práticas do Bush e nada mais!

Senhor, dai-me paciência e resiliência para continuar na missão que tenho: escrever!

Marcos Inhauser.

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