2/15/2022

POLÍTICOS GIRASSÓIS

Para fazer funcionar o governo e o sistema que o sustenta, o governante está continuamente sujeito a influências, arranjos, negociações explícitas e obscuras, feitas diretamente pelo governante ou pelos seus auxiliares diretos. Já li em algum lugar que a democracia é a arte de negociar. O problema é o que se negocia e como se negocia.

A democracia de coalisão, que se impõe quando o eleito não consegue maioria nas Câmara e no Senado, se faz quando o eleito é obrigado a negociar para ter a maioria. Quando estas negociações são feitas baseadas em propostas claras de governabilidade, estratégias de políticas públicas, o bem comum e a elevação dos níveis de saúde e educação elas são benfazejas. Ela se torna câncer quando, para se ter a maioria, recorre-se a estratégias antes combatidas e denunciadas, ao toma-lá-dá-cá, às negociações secretas e à compra de apoio com orçamento secreto.

Com isto afirmo que a democracia é salutar quando as negociações estão em torno de projetos de políticas públicas e é um desastre quando se negocia comprando apoios. O sábio político mineiro cunhou a frase de “que a política é como a nuvem: muda a cada minuto” (já a vi atribuída a Jutahy Magalhães, Tancredo Neves, Afonso Arinos e Gustavo Capanema). Nada é mais constante que a mutabilidade da política. Os inimigos de ontem podem ser os apoiadores de hoje, as verdades de hoje serão aos absurdos de amanhã.

Graças à mutabilidade constante da política o mundo muda. Fosse ela de uma rigidez cartorial, se transformaria em museu de proposições e de pensamentos. O problema não é mudar, mas o de vender-se para mudar. A mudança deve estar alicerçada em convicções sólidas, baseada em raciocínios verificáveis e lógica consoante à ética. Há políticos que são flor: parecem-se ao girassol e mudam de lado para acompanhar a luz do poder.

Nisto o Centrão tem PhD. Sempre esteve apoiando quem está no poder. São os surfistas, pegando ondas de popularidade de políticas detentores de poder.

Por isto vivemos hoje um presidencialismo fake: o presidente pouco poder tem, suas decisões estão sendo derrubadas pelo Judiciário, o legislativo colocou os pés na Casa Civil, o que se pretende fazer só se faz com dinheiro grosso das emendas obscuras aos parlamentares que não podem ser explicitadas para não acabar de vez com o sistema. Um semipresidencialismo ou um parlamentarismo de fato.

Temos um Ô-micon no sistema político brasileiro, vírus resistente a vacinas e outros procedimentos profiláticos, sustentado com reais nas contas bancárias..

Marcos Inhauser

 

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