2/15/2022

O NATAL NA TIA ALDA

O Natal não faz parte da minha infância e adolescência. Por mais que me esforce, não consigo lembrar de um jantar ou almoço, árvore de Natal ou coisa parecida que tenha ocorrido em casa. Presentes, quando houve, foram feitos pelo meu pai.

Isto se deveu às precárias condições financeiras. Vivíamos sem passar fome, mas sem possibilidades de qualquer exagero. Minha mãe, quem controlava ao dinheiro, anotava cada centavo gasto e “esticava” as moedas para chegar ao final do mês. Ela e minha avó materna completavam a renda plantando flores e mandioca que vendiam.

Quando era Natal, eu mal comia em casa e saía correndo para a casa da minha tia Alda. Lá estavam meu avô, minha avó, minhas tias, tios, primos e primas. Era uma fuga para ir à casa da tia Alda. Quando lá chegava era uma festa. Eu me sentia acolhido, amado. Era o tempo com meu avô que, separado de minha avó, eu só o via por ocasião do Natal. Ele me fazia sentar ao seu lado, perguntava um monte de coisas, se interessava por mim. Árvore de Natal? Não me lembro se havia. Elas não eram importantes para mim. Presentes? Não havia. Era o tempo juntos. Mas não me esqueço que, em um Natal, meu avô me trouxe um periquito australiano. Foi a glória. Era como se me vô fosse ficar o ano todo junto comigo.

Deste tempo ficam as lembranças das peripécias que fazia para escapar do almoço em casa e ir para a tia Alda, do tempo com meu avô, minhas primas e tias. Não era por causa do presente. Era por causa do tempo de alegria, da sobremesa, do café no final da tarde.

Obrigado, tia Alda, por ter me propiciado tão indeléveis memórias.

Marcos Inhauser

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